Educação Intercultural

A História do meu pai
Todos nós temos um familiar que foi ou é emigrante e são diversos motivos que levam os cidadãos portugueses a deslocarem-se para os quatro cantos do mundo. Eu vou falar sobre a história de um emigrante, muito familiar para mim, o meu pai.
O povo português é sem dúvida um povo aventureiro, e desde sempre conhecido pela sua coragem. A falta de emprego e os salários reduzidos em Portugal levaram o meu pai a não ter outra solução senão emigrar. Foi uma decisão difícil de entender para mim, porquê que o meu pai iria trabalhar para fora se o podia fazer cá. O tempo foi passando e as saudades eram maiores contudo começava a perceber melhor os motivos da sua ausência. Eu tinha cerca de 12 anos, a minha irmã 8 e o meu irmão 2. Tentei protegê-los sempre, da melhor maneira que sabia.
Lembro-me de escrever cartas para que o meu pai levasse sempre que nos vinha visitar, porque assim pensava em tudo que lhe queria dizer e era uma maneira de sentir que ele estava perto. Sempre que ele voltava de Espanha, com as suas malas, era uma alegria em casa. Lembro-me também das esperas inquietas no dia em que sabia que ele voltava, acho que era a única coisa em que pensava durante todo o dia.
Infelizmente o fenómeno da emigração não é recente, os meus avós também são emigrantes e desde que me lembro, vamos visitá-los a Marseille. Nas férias de Natal eram longas as viagens que fazíamos, de carro, para visitar os meus avós, com eles viviam também os meus três tios.
Patrícia Carvalho

O primo que emigrou
Com 45 anos de vida, casado e com duas filhas uma com 14 anos e outra com 12, o meu primo emigrou para a Alemanha o ano passado. Trabalhava como pedreiro, enquanto a mulher trabalhava numa fábrica têxtil. As duas filhas frequentavam a escola pública, tinham uma vida razoável até. No entanto, o trabalho como pedreiro não era diário, tinha de se sujeitar ao que existia no momento, o que deixava o meu primo bastante nervoso várias vezes porque via a sua vida profissional como uma incógnita. Na fábrica onde a mulher trabalhava existiam problemas financeiros, diversas vezes não eram pagos os salários mensais e começava a existir os despedimentos. As filhas precisavam dos bens essenciais para frequentarem a escola, pediam diversas vezes roupa e calçado aos pais porque olhavam para os seus colegas com roupas diversas e elas sujeitavam-se muitas das vezes a utilizarem roupa uma da outra. O meu primo quando se apercebeu que era já complicado em vários meses aguentar despesas como água, luz, gás, bens essenciais entre outras coisas lançou a ideia na família de ir trabalhar para o estrangeiro. A reacção por parte da família não foi a melhor, as meninas não queriam ficar longe do pai, enquanto que a esposa apenas baixou a cabeça, sabendo ela que era a única possibilidade que tinham para poder sustentar a família com mais opções. Foram tempos complicados, era quase como um assunto proibido em casa, até que um dia uma notícia chegou. Um vizinho do meu primo tinha um lugar para ele trabalhar na Alemanha, fazendo-lhe uma proposta bastante boa, o que o levou a pensar mais seriamente nesse assunto. Num determinado dia, depois de várias conversas com a esposa, chegaram á conclusão que tinha mesmo de tomar essa decisão e ir embora do País. Comunicou às filhas, que ficaram de rastos, mas contudo desta vez entenderam melhor o porquê, visto que não sabiam o que se estava a passar. O meu primo falou com o vizinho aceitou a proposta, foi tratando dos papéis e o dia finalmente chegou, estávamos em Setembro de 2013. A família foi deixá-lo ao aeroporto entre lágrimas, enquanto ele tentava disfarçar a tristeza que sentia por deixar para trás as pessoas mais importantes da sua vida. Foram tempos difíceis até esse dia, mas depois dele embarcar também não melhorou, as filhas sentiam bastante a falta do pai, falavam com ele pela internet todos os dias mas para elas não era suficiente. A fábrica onde a mãe trabalhava também não melhorava o que a deixava cada vez mais em baixo.
O meu primo, no entanto andava a ambientar-se á Alemanha, tinha aulas de alemão várias vezes por semana, gostava do trabalho que fazia e apesar de tudo sentia que tinha feito a escolha acertada pois o que ele mais desejava era dar uma vida boa ás suas filhas.
Em Dezembro de 2013, o meu primo teve direito a duas semanas em Portugal para poder passar o Natal e a passagem de ano com a sua família. Tive oportunidade de ver com os meus próprios olhos a felicidade daquela família quando voltaram a ver o meu primo! Mas tudo o que é bom acaba depressa e essas duas semanas passaram a voar como dizia a minha prima mais pequena. A hora da despedida é sempre algo doloroso e saberem que o vão ter de fazer várias vezes ainda as deixava mais angustiadas. O meu primo voltou para a Alemanha deixando novamente as filhas e a esposa em lágrimas mas também com um obrigado vindo das filhas e um enorme abraço de casa uma.
Tudo acontecia normalmente até que a esposa do meu primo teve a notícia que a fábrica onde trabalhava ia fechar por não conseguir pagar a todos os empregados e por já não conseguirem ter lucro. A minha prima levou um choque com aquela notícia, apesar da vida estar a melhorar, ela ficar sem emprego era quase como voltar á estaca zero.
Foi com lágrimas que pelo telefone ela contou ao marido o que se tinha acabado de passar, ele apenas dizia para ela ter calma que haviam de arranjar alguma coisa, ela em nada conseguia pensar .
O meu primo pensou, pensou, pensou e via várias mulheres a fazerem limpeza nos prédios, a maioria dessas mulheres eram emigrantes e muitas eram portuguesas. A primeira coisa que se lembrou foi que a esposa dele podia ser uma daquelas mulheres, tinha uma trabalho em que era bem paga, comparando ao que era anteriormente e tinham a família toda reunida.
Foi falando com essas senhoras para saber informações e uma delas deu-lhe uma morada para ir ao qual podia falar com o patrão dessas mesmas senhoras. O meu primo no dia seguinte ligou á esposa e falou-
lhe no que tinha pensado e contou-lhe todos os pormenores que sabia acerca do emprego. A esposa ficou reticente pois não queria que as filhas deixassem tudo aquilo que tinham neste país para trás mas prometeu que ia pensar no assunto. Apesar de tudo o que a esposa lhe disse, o meu primo foi no dia seguinte falar com o patrão das senhoras, ele explicou-lhe tudo o que tinha de fazer e ele apontou tudo e prometeu em breve uma resposta. Após um longo tempo que se passou para que a esposa pudesse pensar, resolver dizer ás filhas o que ela e o pai tinham falado. As meninas reagiram mal como era de esperar, tinham as vidas delas cá, os amigos, a escola, as actividades extra curriculares mas havia uma coisa que não tinham, o pai. O tempo ia passando e o meu primo continuava esperançoso que a esposa concordasse em ir ter com ele. As meninas de dia para dia começaram a perceber que muitos pais dos amigos delas também tinham emigrado, apesar de tudo elas tinham medo, medo da nova vida que iriam ter mas também tinham a noção que podiam ter a família novamente reunida. Até que houve um dia que disseram á mãe para ela fazer o que era melhor para todos, se a mãe quisesse ir ter com o pai, elas iriam também. Então, a mulher comunicou ao meu primo que as filhas aceitaram e que o melhor para toda a família era estar todos juntos porque assim conseguiam dar força uns aos outros. Preencheu todos os papéis para tentar ter emprego como empregada dos prédios e teve uma resposta positiva. As meninas acabaram a escola em Julho de 2014 e logo em Agosto, o meu primo veio cá buscar toda a gente, visto que a escola das meninas na Alemanha começava em Agosto. A esposa do meu primo está neste momento a trabalhar como empregada de prédios, enquanto o meu primo continua a trabalhar nas obras públicas. As crianças frequentam uma escola que é destinada a crianças que emigram onde conheceram muitas crianças portuguesas também, o que as deixou mais tranquilas. Foi complicado para elas e neste momento ainda está a ser, as saudades são muitas e o que as fortalece é estarem perto dos pais. O meu primo trocava qualquer coisa para poder estar no nosso País, no entanto também sente revolta porque o mesmo País que ama foi o país que o separou da família por um tempo, o país que não o aceitou. Por isso, neste momento estão na Alemanha os 4, estão bem, felizes e sempre que vêm a Portugal as lembranças vêm á tona e acima de tudo lembram-se de como foram felizes neste país. Foi cá que as filhas nasceram, que ambos se conheceram e casaram, foi cá que a maior parte da vida deles foi vivida e por mais longe que estejam e por muita revolta que sintam, é este o país que faz com que eles todos os anos voltem e voltem e voltem com um sorriso enorme nos lábios.
Rute Silva

O tio que emigrou
Portugal foi um dos muitos países afetados pela grave crise que se faz sentir. Por consequência renasceram os fenómenos das migrações, que já se haviam esquecidos. Umas pessoas vinham, outras iam… e, foi no meio desse vai e vem que o meu tio se viu obrigado a ir para outro país em procura de trabalho. A seu ver, as oportunidades para ele em Portugal já se tinham esgotado e só lhe restava fazer as malas e ir!
Aproveitou a “boleia” de um amigo que também ia partir pelas mesmas razões e rumaram até Angola. Este foi o destino escolhido pois o meu tio já lá tinha estado ainda em criança. Embora não se lembrasse de nada pois quando regressou a Portugal ainda era um menino de tenra idade, já lá tinha contactos e conhecidos que lhe tinham sido transmitidos pelos seus pais. Tendo em conta todas as outras opções Angola foi sem dúvida a que mais segurança e confiança transmitiu ao meu tio e à sua família pois já tinha como garantido algum apoio de amigos.
A mudança causada pela emigração do meu tio não se deu só e apenas na sua adaptação no destino eleito, mas também no resto da sua família. A vida do meu tio e da minha tia mudou por completo. Com a ida do meu tio, a minha tia via-se desempregada e sozinha com os seus três filhos de diferentes idades. O mais novo, com 9 anos, e o do meio, com 13 anos, encontravam-se a estudar e o mais velho, com 20 anos, via-se agora com os estudos concluídos e sem emprego.
Esta família parecia estar destina à desgraça. O presente encontrava-se muito escuro e o futuro era incerto. Apenas restava a esperança de aquela mudança transformar a vida daquela família.
Com a ida do meu tio, a minha tia conseguiu alguns apoios sociais para tentar sobreviver a tamanha crise e passados uns meses o meu tio começou, a muito custo, a mandar algum dinheiro para desafogar a sua família. Embora fosse bastante difícil devido a ter começado uma vida nova, com muito esforço, ele conseguiu.
A mudança causada pelas migrações nunca é fácil, mas esta, como era a única saída desta família, foi bem-sucedida apesar das dificuldades. Com o tempo tanto o meu tio como a sua família se foram conseguindo habituando à ideia de estarem longe uns dos outros durante longos meses, embora a saudade apertasse e os reencontros só fossem possíveis nas férias de Verão e de Natal.
A crise fez com que uma das muitas famílias portuguesas em situações delicadas tomasse a difícil decisão e ainda mais difícil a adaptação à ideia de se separar e emigrar em prol do bem-estar do resto da família.
Ana Brandão

A história da Sofia
Sofia nasceu em Portugal e foi aí que depois de acabar o 12º ano arranjou o seu primeiro emprego. Passados alguns anos e com a vida já devidamente estabilizada casou e teve o primeiro fruto da sua relação, nasceu uma menina, Sofia de seu nome, como a mãe.
Inesperadamente e já depois de ter acabado a licença de maternidade e de ter regressado ao trabalho, Sofia, foi despedida da fábrica onde trabalhava. Esteve mais de um ano desempregada. Apesar de ter o seu marido a trabalhar, as necessidades desta família começaram a aumentar, para além de que, Sofia não se sentia bem com ela própria devido ao facto de não estar a trabalhar e ter que ser o seu marido, Marco, o grande sustento da família. Foi então que emigrar foi a melhor solução encontrada pelo casal.
Marco, seu marido, era pasteleiro e com alguns conhecimentos que tinha, nomeadamente amigos e família, foi para a Alemanha com um emprego garantido também como pasteleiro.
Enquanto isso e já na Alemanha, Sofia, procurava emprego. Começou por fazer limpeza em uma ou duas casas mas com o passar do tempo e ganhando cada vez mais conhecimentos, as limpezas tornaram-se a sua vida e o seu emprego.
Apesar de a adaptação ter sido um pouco dolorosa, para todos, visto que, tiveram que aprender uma nova língua, tiveram que se adaptar a um novo clima e a um novo estilo de vida, tudo foi ultrapassado e hoje em dia são felizes, realizados e até já conseguiram comprar casa própria cá em Portugal, coisa que nunca pensariam fazer caso ficassem por cá e a sua situação não melhorasse.
Filipa Meireles

A Sónia e o Delfim
A culpa é indiscutivelmente da crise. Nos dias de hoje, a maior parte das imigrações são devidas à crise e as dificuldades advindas da mesma. Por isso, as imigrações têm como objetivo melhorar a qualidade de vida. Neste caso imigrou a família toda, ou seja, os pais e os filhos, mas, muitas vezes, ou vai o pai ou vai a mãe, deixando os filhos ao encargo de um familiar mais próximo, esta situação é bastante chata, pois acaba por afastar uma família. No entanto, nem todas as imigrações são devido a dificuldades económicas.
Inicialmente, os meus primos, a Sónia e o Delfim, tinham emprego, ambos são licenciados, em história e em arquitetura, respetivamente. Uma vez que tinham a vida organizada e estável, decidiram ter duas filhas. Pediram um empréstimo e construíram uma casa, pouco tempo depois desta estar construída perderam o emprego, tanto um como outro. O cenário era assustador, um empréstimo para pagar e duas filhas para criar. Inicialmente, só o delfim é que imigrou e, como em vários casos, enviava dinheiro para Portugal, uma vez que também a Sónia estava sem emprego. Recentemente, também ela acabou por imigrar para frança, juntamente com o delfim e com as duas filhas…
Segundo o que eles dizem à restante família era bastante complicado lidar com as saudades. As filhas sentiam muito a falta do pai e, sendo tão novas, é fundamental ter a figura, tanto da mãe, como do pai.
Nestas situações é muito importante o apoio da restante família. A minha tia, mãe da Sónia e sogra do Delfim, tem sido uma grande ajuda. Tem de fazer várias viagens para continuar presente na vida da filha e das netas… mas ajuda sempre no que pode. Esta questão da imigração envolve sempre uma panorâmica de assuntos, todos interligados. Para o bem de todos, a imigração deveria estar ligada a situações positivas e não negativas, como neste caso. Mas nem sempre isso acontece e os mais prejudicados são, sem dúvida, os filhos, e a família mais próxima que vai sofrer com a ausência dos mais queridos.
Inês Ferreira